
Num instante era Verão e noutro Outono.
Assim mesmo,
Sem que nada de concreto se tenha passado.
Um tempo que deu lugar
A outro, ciclo ou linha sem fim.
Sem se notar o momento, o gesto,
O corpo ou o verbo.
Toquei sem querer na tua mão,
Quando estávamos no café.
Senti que imediatamente fugiste,
Dela. Instintivamente, como um salto,
De animal selvagem. De rasgão.
Sobressalto que não notaste.
Só eu senti essa fuga. E em silêncio
Assustei-me. Não gritei de modo a
Esconder alguma palavra, que
Escapando diria tristeza. Ou nem isso.
Tristeza que se enrolou em mim,
Abafando-me, embrulhando-me,
Para que qualquer gesto
Aconteça sempre comigo imóvel.
E assim disfarço todo esse
Lamentável, inesperado,
Injustificável e inútil gesto
Da minha mão.
Se tivéssemos observado bem,
Esse gesto aconteceu quando
a tua mão já estava em fuga.
Embrulho-me mais dentro
Deste corpo. O meu
Que não posso evitar de conhecer.
Quando voltar a tocar a tua mão
Não será acidentalmente. Prometo.
Mas promete-me que não foges.
Diz-me somente para eu partir
De repente. Num instante
Entre o Verão e o Outono.
Entre essa tristeza e a primeira lágrima que corre.
Paris, 9/X/2012

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