Dois

Prosas e Poesias, Cerejas e Mares

Semear

Pois meu amor. Eu ando às voltas com a esperança, ou a sua ausência. Onde ainda a encontro. Onde já a perdi. Não é fácil resistir quando o problema é global, sistémico e sem um líder conhecido. Tudo se torna confuso e a sobrevivência torna-se uma arma que me querem fazer usar. Penso onde moram as minhas convicções, talvez sociais-democratas, talvez outra coisa qualquer que já não sei. De ter palpites, de achar qualquer coisa sobre qualquer coisa. De achar que com o meu esforço, o meu trabalho e o meu entusiasmo me poderia destacar. Ir mais longe, ser premiado, ter sucesso, viver bem. Pensava ingenuamente, sei agora, que o mundo caminhava para o bem estar geral, para a democracia e para o respeito pelo próximo. Pensava e ensinei isso. Penso agora que todos tentam safar-se. Isso mesmo. Passar entre os pingos da chuva. Com mais ou menos resistência acabamos por ter fome, frio e a enorme responsabilidade da paternidade. Aí ficamos indecisos sobe a coerência do que se ensina e do que se pratica. Entre os valores e a práxis. Às vezes tudo isto me parece sem sentido, noutras descubro uma nesga de futuro. Vou-me habituando a viver assim. Intranquilo se pensar e irresponsável se não pensar. Deito-me, adormeço e volto a sentir a tua mão na minha testa Sentindo o latejar da vida que ainda temos. Quando acordo, olho sempre para a mesinha de cabeceira. Procuro os teus pinhões. Para semear numa destas tardes.

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