Sei que a manhã de frio vai nascer, salvar,
Um dia que desafia querer ser o primeiro.
Mas não são sequer de fins de tarde que falamos.
Sabemos, os dois,
que se fosse uma pintura
Não passaria de uma tatuagem
Numa pele tão fina. Como seda trazida
dum oriente escondido.
Aproximo os meus olhos
de ti. Cheiro o que não sei descrever.
Gosto dessa madeira frutada que ninguém inventou.
A minha força vai-se perdendo,
Como se pisasse a terra com mais força,
Sem sapatos, para sentir novamente a noite que perdi.
Gostava de ir para casa. Para a minha mãe.
Para ti, para tantas pessoas que já nem me lembro.
Gostava de que cada madeira fosse uma verdade, uma constelação, uma estrada.
Escondo-me algures no fundo do mar, junto ao lodo e às algas.
Tentamos mais um secreto adeus ou viver quase sem sangue,
Um poema do deserto, que naufragou em Setembro.
Ou desaguou há mais tempo, os dedos chegam para contar.
Pergunto-te desde quando me escondeste a desilusão.
Pergunto quando devia ter voado.
Quando a porta era para sair e não para entrar.
Nunca regressarei todos os anos como os flamingos,
Mas estarei como lua, por perto, e de mão abertas, outras com o mundo fechado.
Embora não saibas o segredo de descobrir a espada que me trespassou. Saberás sempre o que penso.
Vou agora com uma mão uma cheia de nada.
E afinal isso, sei-o agora, foi o que me tornou feliz.
Deixei de pensar que mereço a Ilha do Príncipe,
com a minha avó brincar com as pedras da praia.
Se fosse amanhã seria um beijo infinito. Como aqueles que começavam num Porto antigo. E que a cobardia me abandonou sempre.
Não tenho mais segredos. Mas ainda imagino que o dia não acabou. Acredito na rosa do vento. Neste templo que vou deixar entrar em mim. Sem fruta envenenada, nem alguém que me julgue sempre pelo que não fui capaz de ser.
Dou-te um coração, a única coisa boa que acho que tenho. Não o deixes esquecer aos que estão entre nós.
12.04.2025
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