Dois

Prosas e Poesias, Cerejas e Mares

Categoria: Mares

  • Há uma vertigem, que nem sempre se sente, quando se faz a curva e se abandona o bairro onde nasci. Nunca ninguém desejou voltar, regressar, e isso faz com que aquele lugar vá morrendo. Ao mesmo tempo, tornou o bairro inalterável. À excepção dos que partiram, para outros locais ou desta vida, é possível cumprimentar…

  • Ficarias aborrecida se eu me fosse embora? Por uns dias. Para pensar na nossa vida. Estes silêncios todos. As noites. Não quero que fiques triste, mas é tudo tão confuso. As relações. Tenho sempre a sensação que desiludo alguém. Um alguém, sempre.Tenho saudades de me rir. Desajeitei-me da vida. Se ao menos conseguisse contar qualquer…

  • “O Beijo”, Auguste Rodin Meu amor, deixa que o tempo que uma lágrima demora a cair seja suficiente para me esqueceres. Nem mais nem menos. Um fino fio de água salgada que, ao terminar o seu percurso, limparás com a palma da mão. Esfregando a derradeira sombra clandestina, num movimento de frente para trás, tentando…

  • «Quando abandonei a sala de embarque em direcção à saída, encontrei uma espécie de recolhimento e uma serenidade estranhíssima. Tive de percorrer um corredor imenso, completamente deserto. E então eu, o Prémio Nobel, o pobre senhor que ali ia completamente sozinho, levando a sua mala na mão e a sua gabardina debaixo do braço, dizendo:…

  • Tanto tempo sem escrever. O músculo torna-se flácido. Uma espécie de agonia que ao mexer dói. Agora tento pôr um pé á frente. Depois arrasto o outro. Em esforço. Seguro-me a ti. Dás-me a mão. Somos “Dois”.  

  • Publicado originalmente em Caixa Negra: Katmandou, Nepal Fotografia: João Martins Pereira

  • Há uma parte de mim que te quero mostrar. Com todas as palavras ou em cada silêncio. Nunca com a indiferença. Esse grito que começa e acaba sem nunca ter existido. E que por isso mata da forma mais cruel. Morrendo devagar, sem poder fugir. Uma morte cobarde, essa da indiferença.