Quando me perguntas pelo meu passado, eu consigo inventar e misturar tudo com o que aconteceu. Cinzas e muros que completam a verdade e a inverdade de mim. A maior parte das vezes, acrescento flores e tu calada, deliciada. Nos teus olhos consigo ver que sabes que é tudo um pouco inventado, que nada foi exactamente assim, que eu não fui tão bom, nem tão mau, nem um canalha ou um ingénuo. Às vezes levantas-te a meio de uma história e eu paro de falar, sigo o teu corpo de seda que vai à janela. Não sei o que procuras nesse Tejo através destas cortinas de renda. Imagino meu amor, que me escondes, com medo que eu veja todos os mortos que ainda flutuam.
Dois
Prosas e Poesias, Cerejas e Mares
recent posts
about
Posted in Prosas
Uma resposta a “sete vírgulas e nove pontos finais”
-
Maravilhosamente escrito. Completamente triste. Recorda os meus pesadelos. Um cenário de tranquilidade, neste caso um casal que conversa sobre o passado de um deles. Um movimento simples, aqui o afastar de uma cortina. E o inesperado. O choque. A morte. O acordar em sobressalto. O medo que imobiliza….
Apetece dizer “já passou. Foi só um sonho mau. Nada daquilo aconteceu. Estou aqui. Está tudo bem”…
GostarGostar

Deixe uma resposta para A Cancelar resposta